Neste livro, Carl Sagan apresenta uma visão cética do mundo, algo esperado de um cientista qualificado como ele. Por não ser uma história, seguir a ordem do livro não é essencial, e revelar alguns trechos não é problema.
O livro inicia bem, com Sagan contando de sua infância, e de como se desenvolveu sua paixão pelo conhecimento. É no mínimo inspirador.
Ao meu ver, no entando, a narrativa toma um rumo um pouco cansativo, onde ele se extende demasiadamente na análise de diversos casos populares de pseudociência (abduções, cristais, etc), analisando e atacando cada caso individualmente.
Os demais capítulos, entretanto, me fizeram adorar a obra. Alguns pontos excelentes merecem ser citados:
Sagan trata de desmistificar muitos preconceitos comuns que encontramos hoje relacionados à ciência. Ele tenta trazer a tona a verdadeira ciência, a ciência pura, e mostra suas grandes qualidades. Ciência pode ser aplicado em qualquer área de conhecimento, não se resume a homens arrogantes de jaleco branco. É apresentado que a ciência não tem como objetivo destruir crenças, mas sim esclarecê-las. O papel da ciência é encontrar a verdade, por mais inconveniente que ela possa ser.
Muito conhecido pelo seu ceticismo, Sagan enumera diversas formas de testar as "verdades" que chegam até nós. Com uma visão realista e bem estruturada, ele ensina o leitor a ser muito mais crítico. Algumas dicas merecem ser citadas, como por exemplo: "Não busque uma explicação extraordinária para o que possui uma explicação simples", ou "Afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias", algo que pode ser aplicado a inúmeros casos "místicos" que tem uma explicação racional. Como bem diz Sagan, temos que aprender a "separar uma grande descoberta de uma grande tolice".
Um ponto que nem sempre é discutido é a responsabilidade dos cientistas, que muitas vezes se limitam a se preocupar com a ciência, sem questionar seu uso. Sagan faz uma análise do assunto, cita por exemplo casos mais conhecidos como Einstein e seu envolvimento no desenvolvimento da bomba atômica, e Edward Teller, pai da bomba H, que defendia o uso e desenvolvimento de armas nucleares, e se encaixava um pouco no perfil de "cientista louco".
É um consenso: os nerds nunca foram populares. Talvez por eventuais problemas de relacionamento, ou por dedicar muito tempo aos estudos, são conhecidos por não ter uma namorada, ou por ter construído uma. Sagan fala em nome dos nerds, e mostra um lado um lado diferente do estereótipo popular. Como o conceito de "nerd" não é muito definido, Sagan liga o nerd ao homem da ciência, e mostra que este é responsável por muito do conforto que temos hoje. Outro ponto que é discutido é a dificuldade que as mulheres encontravam (e ainda encontram) para ser tratadas com igualdade num contexto historicamente dominado por homens.
Investimento em ciência/ descobertas
Uma face muito interessante da pesquisa e desenvolvimento é discutida pelo dr. Sagan. Ele mostra que descobertas não são necessariamente proporcionais à quantidade de dinheiro investido em pesquisa. Isso começa pelo fato de muitas das grandes descobertas terem sido feitas por acaso (enquanto outro assunto estava sendo pesquisado), sendo assim não é possível prever quanto tempo vai levar e quanto vai custar uma descoberta. É quase uma aposta. E ele mostra que isso é um freio em muitos investimentos na área, pois é difícil justificar quando milhões investidos não dão resultado.
A leitura deste livro é muito construtiva: obriga o leitor a rever muitos conceitos, e oferece novas formas de enxergar o mundo. É uma leitura que recomendo a todos que têm um pouco mais de interesse por ciências, ou àqueles que filosofam sobre os porquês do mundo, ou a qualquer um que procure uma leitura interessante.
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